sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Que Ouves?

  

Que ouves?
talvez seja um canoa invisível que teus olhos não abarcam 
um casal de patos selvagens, na curva do rio, em dança amorosa 
nesta doce manhã deliberadamente brumosa 
será o doce choro das árvores despidas, engrossando as águas do rio 
o murmurar dos pássaros em seus ninhos, esperando pelo estio 
Que ouves?
talvez sejam os imaginários postilhões do horizonte 
anunciando que a densa neblina vai chegar 
ou a nostálgica luz cinza que dá esse encanto, ao teu olhar 
será o silêncio desta escassa luz e tesouros escondidos 
o desejo desta paz, procura incessante dos solitários perdidos
Que ouves?
talvez seja o ambicionado paraíso que tens perante ti 
que o tenhas encontrado sem ter dado conta 
ou um compasso de espera nessa vida de barata tonta 
será que te embebedas do tesouro que os olhos vislumbram 
com toda esta beleza de Outono, teus sentidos se perturbam   
Ou será que no esforço longínquo de procurar no Outono, na solidão 
não é realidade, esta paisagem, é sonho da tua visão?




© Poema: Fernando Antunes; Foto: Armando Isaac

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