domingo, agosto 29, 2010

Pensão Laranjo

© Armando Isaac




































                                                                                                               





   À SENHORA MARIA LARANJ0
       DA PRAIA DA NAZARÉ
Minha boa Amiga senhora Maria
Laranjo, da praia da Nazaré,
em que tanto admiro essa fidalguia
de um povo que na Europa o mais fino é, 
muito agradecido pelo almoço Real
que aí me deu junto às ondas do mar;
tivera Camões comido um igual, 
fazia-lhe versos, mas não a zombar.
Minha boa Amiga senhora Maria
Laranjo, da praia da Nazaré,
por minha mulher a receberia
(se a minha Amiga quisesse, já se vê)
se acaso a conheço, quando era solteiro,
para ser agora - ventura tamanha -
em vez de pobre doutor, marinheiro,
mendigo do mar, arrais de companha.
Estando da banda dos pobres do mar
já eu não teria, como tenho às vezes
remorsos tamanhos e tão graves fezes
de ver tantas dores em roda a penar;
assim penaria e acreditaria
como eles, por lindo milagre da fé,
que depois no mar do Paraíso seria
o pescador mais feliz da Nazaré!...
Mas já que eu errei, por destino fatal,
o que era a minha pura, certa vocação,
saiba que em si louvo e admiro Portugal
no que tem de belo - alma e coração.
E saibam as altas senhoras princesas
que há uma fidalga aí na Nazaré
com que elas podem aprender finezas
e a dar um almoço que tão fino é.
© Poema de Afonso Lopes Vieira

terça-feira, agosto 10, 2010

Ciganos - Sete imagens para um poema


© Fotos de Armando Isaac
© Poema original do poeta Carlos Carranca, que teve a gentileza de me oferecer.
   Ver mais abaixo, um video do YouTube intitulado "Carlos Carranca - Ciganos" em que o poema                             é dito pelo próprio autor!

domingo, julho 04, 2010

Os sonhos têm existência quando acordado?


                                                                                                                                         © Armando Isaac



É de sonhos que agora vivo
neste longo Outono com laivos de Verão
pássaro azul de asas amputadas
Ave sem bando
voando na melancolia do céu azul 
procurando preencher a sua solidão
Vou depositando afectos
em ninhos vazios doutras aves
esquecendo os que outrora construí
É de sonhos que agora vivo
enquanto o ameno Outono durar 
direi que sou feliz.
*Do livro “Perguntas ao Outono”  de Fernando Antunes

domingo, junho 27, 2010

É doce o poente e triste o orvalho?

                                                                                                                                           © Armando Isaac



É nas manhãs orvalhadas de Outono
depois das noites solitárias, geladas
que penso em ti e à tristeza me abandono
E os longos dias cheios de nadas
tendo longínquas e difusas notícias de ti
escorrendo pelos dedos as horas paradas
Então vem o doce poente dizer, sorri
o silêncio a meditação são coisas amadas
dizer que regressarás a este amor por ti
* Do livro “Perguntas ao Outono” - Fernando Antunes

domingo, junho 20, 2010

Sonho delicado

                                                                                                                                   © Armando Isaac

Se enquanto dormes
me amas em sonho delicado 
a noite é toda iluminada 
para este mar prateado
Mas se te espero 
sem esperança de que apareças
que nome dar á tristeza, sem sol 
mundo ás avessas

Se te transformas em arco-íris 
tudo banhando de claridade  
é azul o horizonte
alegremente serena esta vontade
Mas se estás longe
sol no outro lado do hemisfério
são escuros os sonhos 
no precipício do mistério
Há gaivotas na praia 
grasnando, com seu passo desengonçado
golfinhos saltando de alegria
 se estás ao meu lado
E um doce sorriso 
na maresia deste mar gelado
com sol ou sem ele 
sempre que estás a meu lado.
* Do livro “Perguntas ao Outono” - Fernando Antunes

sábado, junho 12, 2010

É à tarde

























                                                                                                                                   © Armando Isaac



É à tarde
quando a brisa transporta meus pensamentos
em ânsia de acasalarem com os teus 
que te procuro
Alongo meus olhos
do cimo do mastro dum barco naufragado
donde se vislumbra
tua casa de névoa
E sonho
casas cheias de gente que se amam
na vaga esperança 
de poder sorrir-te
Quando
a noite vem dizer-me que são horas
deixo de procurar pelas ruas
amarro-me ao teu corpo ausente
Que posso fazer amor
sem o lençol de pétalas aveludadas
sem o perfume das rosas amarelas
* Do livro “Rosas na Hospedaria do Vento” - Fernando Antunes

quinta-feira, junho 10, 2010

Memórias de um passado....?






                                                                                                                                     © Armando Isaac


O que os terá reunido naquele momento? Memórias de um passado em que conviveram? Ou, simplesmente, a crise que os retirou de um descanso forçado imposto pela História, para, em troco de alguns rublos – a vida também deve ser difícil n’ “Outro Mundo” (de outra forma não teria este nome) – complementarem as suas reformas. Não o sabemos, mas isso, também, pouco nos interessa. Ironicamente, ou talvez não, não deixam de ser curiosas as posturas dos protagonistas. Lenine, parece cabisbaixo, certamente surpreendido pelo estado da nova Rússia, agarrando-se desesperadamente a um sonho, que sustentou, durante décadas, utopias e combates. Estaline, aparece-nos com a bandeira desfraldada, sem convicção, como se a altura do pronunciamento já se tivesse esgotado e fosse tempo de regressar a casa. Nicolau II, ainda, revela alguma dignidade (aquela que, segundo os biógrafos lhe terá faltado no momento da morte), talvez porque o actor que lhe veste a pele seja mais empenhado ou, então, ainda esteja preso a convicções. De que falarão? Provavelmente do tempo, da crise (inevitavelmente) ou, muito simplesmente, da postura que deverão adoptar para se tornarem alvos fáceis de um fotógrafo competente e curioso.
Texto de Alcino Pedrosa

segunda-feira, junho 07, 2010

Mas que Deus és tu?




































© Armando Isaac




Mas que Deus és tu
no qual acredito e onde mais e mais
deposito paixão fervorosa?
Mas que faço
a este calor de deserto
que agora habita minha cara
a estes raios de sol
que entraram em meu peito?
*Do livro “Rosas na hospedaria do vento” - Fernando Antunes

sábado, junho 05, 2010

O SONHO

























                                                                                                                                  © Armando Isaac


Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não Chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo Sonho é que vamos.


Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.


Chegamos? Não chegamos?


- Partimos. Vamos. Somos.




Poema de Sebastião da Gama

sexta-feira, junho 04, 2010

A Tristeza




































                                                                                                                                      © Armando Isaac
A tristeza, se deitada no arco-íris, é alegria?
A tristeza vem desde o berço 
percorrendo o caminho até ao final da ilusão 
não é uma tristeza triste é um estado permanente 
com o qual coabito docemente
Quando a vida ainda era leve, alegre, e solto o conviver 
num dia de pretensa chuva, junto ao mar, olhei o arco-íris 
ao qual brindei com oferendas e preces, para me proteger
Nesse espectro de cor, a cor azulada 
gravou sem o saber, a amizade por esta tristeza adivinhada 
o tempo foi passando a afeição cimentando o Outono chegando 
e o azul do arco-celeste a esta tristeza endémica se abrindo 
Hoje digo alegria, porque o arco-íris sempre me quis 
e a tristeza deitada no seu seio, diz-se feliz 
* Do Livro “Perguntas ao Outono” - Fernando Antunes

domingo, maio 30, 2010

Porta do Templo




































                                                      © Armando Isaac





Sento-me à porta do Templo
fumo pelo cachimbo de água
o ópio da minha espera.
Vejo entrarem coisas perecíveis
Com os olhos rasos de água
o cérebro enevoado.
Voo no colo de uma águia
que queima as asas no sol
deixando-me na órbita
de coisa nenhuma.
Espero a Deusa do Amor
que consumirá meu corpo
e lhe dará a forma da felicidade
* Do livro “Rosas na Hospedaria do Vento” - Fernando Antunes

sábado, maio 29, 2010

Era à Tarde

                                                                                                                 © Armando Isaac
Era à tarde
que gostava de sentir
a areia molhada, o som do mar, do vento
depois
o céu ia do vermelho a cinza
então
metia as forças encontradas no bolso
regressava à casa da praia
*Poema do livro Casa da Praia - Fernando Antunes

domingo, maio 23, 2010

O Porto sabes... 1

























                                                                                                                              © Armando Isaac









O Porto sabes...
Eu sei.
É um rosto
pintalgado de estrelas
com olhos de noite
e os tufos brancos, bonitos
numa cabeleira curta, aos bicos
É o sorriso
a voz ciciada
aquele mar de espanto
a noite enamorada
é o pôr de sol em tardes de Verão
de calma e solidão
É o rendilhado das pontes
e os favos da ribeira
subindo os montes
em alegre brincadeira
é as pétalas de rosas com voz
que se miram e espelham na foz
Eu sei.
Saberá quem despertou a saudade
Em meu peito?





© Fernando Antunes

O Porto sabes... 2

























                                                                                                                                © Armando Isaac


O Porto sabes...
Que faço
da curva deste rio
do azul deste céu
do verde das águas
do calor deste estio?
Senão dizer
que as ondas são tua boca
as areias teu corpo amado
onde me refresco e rebolo
em espasmos de orgasmo
sonhado
Pois tenho a recordação
da rosa de todos os matizes
desses dias felizes
* Do livro “Rosas na Hospedaria do Vento” - Fernando Antunes

sexta-feira, maio 21, 2010

Quando

























                                                                                                                                 © Armando Isaac
Quando                                                 
o murmúrio das ondas                                   
acorda a casa da praia
e o silêncio escuta o grito das gaivotas               
não há mais nada                                
                                                                       
Hoje
tudo chegou 
o sol o mar as gaivotas
digna solidão!
O amor bateu à porta
sorriu e entrou
* livro Casa da Praia - Fernando Antunes

terça-feira, maio 11, 2010

Acorda cedo a gaivota


























                                                                                                                           © Armando Isaac
Acorda cedo a gaivota, vagueando tonta pela areia
hábito que antecede a paixão, presa ainda nessa teia
Levanta voo, paira por momentos em procura errante
que lhe permita ainda e sempre ver a casa amante
À luz da saudade nada poderá violar a eterna paixão
ainda ela perdurará, mesmo que se dê a final implosão
A gaivota sabe da insensatez na miragem da casa, inevitável
mas o doce amargo do sonho está na ausência do realizável
Assim, nessa abstracção indecisa se vai terminando a existência 
se vai hipotecando irresponsavelmente uma futura vivência
E as horas destas noites nem dormidas nem amadas
deserto percorrido com miragens, sem oásis, são pesadas 
Por isso o vagabundear nas manhãs orvalhadas é habitual
a imagem do passado, na casa, mais repetitivo, trivial 
*Poema do livro Casa da Praia - Fernando Antunes

O Papa

O Papa no papamóvel, circulando na Av. da República no dia da sua chegada a Portugal

terça-feira, maio 04, 2010

Ser Mãe


















































Ser mãe é pureza, é doçura 
É viver cheia de ternura 
É ser rica por tanto amar! 
Ser Mãe é conhecer o mundo 
Através do amor profundo 
É rir, por seu filho abraçar! 
Ser mãe é descobrir em cada dia 
Que a vida recomeça com alegria! 
Ser Mãe, é poesia, é bonança 
É saber sorrir para a criança! 
É nunca ter cansaço de crer 
É plantar, adubar, depois colher! 
É saber o que é ser Mulher 
É adivinhar o que seu filho quer! 
Ser mãe é cantar a felicidade 
É ter uma riqueza sem igual. 
É ser anjo é falar com o coração 
É doar o seu amor incondicional! 



© Foto: Armando Isaac; Poema: Lena Nabais