quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Há um lugar


Há um lugar
que permanece inalterado desde que o conheço 
lugar que está no meu coração desde o berço
Lugar da minha infância, onde aprendi a mergulhar com o silêncio na mão 
onde os pescadores sempre regressam  e os barcos  baloiçam na solidão   
Lugar onde a imensa nobreza dos homens ganha dimensão 
Neptunos de um mar menor na labuta do ganha-pão  
Lugar onde volto sempre que posso, e me sinto de novo menino 
sentado nas tábuas desse cais sorvendo o ar marinho 
Lugar onde ao sol poente nos esquecemos do tempo, sentimos o cheiro a maresia 
onde nos chega a paz, que merecemos, e a brisa tem o aroma da melancolia
Há um lugar
onde no cais os barcos descansam, os homens sonham olhando o entardecer 
onde o rio se torna laranja e o dia, sorrindo, diz que vai morrer 

© Foto: Armando Isaac; Poema: Fernando Antunes

3 comentários: